A solubilidade Como Pilar do Desenvolvimento Farmacêutico: Desafios e Soluções
A solubilidade de um fármaco é um dos aspectos fundamentais para seu sucesso terapêutico. Trata-se de uma característica físico-química essencial que influencia diretamente a biodisponibilidade, a farmacocinética e, consequentemente, a eficácia do medicamento.
Mas, você já parou para pensar nos desafios que a baixa solubilidade pode impor ao desenvolvimento de novos fármacos?
A maioria dos medicamentos orais precisa estar em solução para ser absorvida no trato gastrointestinal. Quando um fármaco apresenta baixa solubilidade aquosa, sua absorção pode ser lenta ou limitada, reduzindo sua eficácia clínica.
Essa é uma das bases do Sistema de Classificação Biofarmacêutica (BCS), que categoriza os fármacos com base na sua solubilidade e permeabilidade. Além disso, dificuldades de solubilização impactam significativamente a formulação de injetáveis, uma vez que a administração parenteral frequentemente requer que o ativo esteja em solução.
Os avanços na química combinatória, nas técnicas de triagem de alto desempenho e, atualmente a IA (inteligência Artificial) vêm ampliando rapidamente o portfólio de moléculas bioativas.
Entretanto, esse progresso também tem, por um lado, aumentado a incidência de compostos altamente lipofílicos e pouco solúveis em água, tornando o desenvolvimento farmacêutico ainda mais desafiador. Para se ter uma ideia, no final da década de 1990, boa parte dos compostos registrados apresentavam solubilidades inferiores a 5 µg/mL.
Diante desse cenário, a pesquisa farmacêutica sempre busca estratégias para melhorar a solubilidade dos fármacos, aliada a eficácia farmacêutica.
Entre as abordagens mais utilizadas estão o uso de co-solventes e técnicas de complexação, como a incorporação de ciclodextrinas; emprego de nanoformulações e dispersões sólidas para aumentar a dissolução; modificação química, incluindo o desenvolvimento de sais e profármacos; uso de emulsões e lipossomas para otimizar a dispersão do ativo no meio biológico, etc.
Paradoxalmente, há situações em que a solubilidade precisa ser reduzida, como na formulação de sistemas de liberação prolongada, quer seja para mascarar sabor ou na melhoria da estabilidade química do fármaco. Essas estratégias exigem um bom controle para garantir que a modificação na solubilidade não comprometa a biodisponibilidade e a eficácia terapêutica do medicamento.
Além do impacto direto na formulação e absorção, a solubilidade também é fundamental no desenvolvimento de métodos analíticos. A cromatografia líquida (HPLC), por exemplo, depende da interação diferencial do fármaco com as fases móvel e estacionária, um fenômeno diretamente ligado à sua solubilidade. Da mesma forma, técnicas espectrofotométricas baseadas em UV-Vis e outras técnicas analíticas são frequentemente utilizadas para quantificação de soluções de fármacos.
Fonte: Carlos Eduardo